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O passar do tempo e a carreira, por Virgilio Marques dos Santos

    Meu pai tinha uma frase que era certeira, quando o assunto era o passar do tempo: “não é o tempo que passa, Virgilio. Somos nós”. Após esse choque de realidade, ele elencou seus argumentos: ““quando nós nos formos, a Terra continuará existindo. O sol também, as florestas, o mar, a praia, e assim por diante”.

    Depois, mantendo meu viés de chato e “explicadinho”, pensei em falar: “e a pangeia? E os dinossauros? Daqui 5 bilhões de anos, o sol desaparecerá, também”. Enfim, recitava uma penca de fatos e dados para tentar me acalmar e refletir sobre a finitude de tudo. Porém, por mais que tentasse me esconder nisso, ele estava coberto de razão. As coisas ficam, nós passamos.

    Como exercício, olhe à sua volta. Se trabalha numa empresa há 10 anos, por exemplo, aposto que irá se lembrar de uma série de coisas ou pessoas que já passaram e que não mais estão. Uma sala, uma mesa, um time, uma gerência, enfim, será apenas uma vaga lembrança do que já foi um dia.

    Olhar para o jardim do meu escritório me traz uma infinidade de recordações. Medos que já tive, angústias, notícias boas que me chegaram lá, tristezas, enfim… parece que todas as vezes que lá estive, deixei um pouquinho de mim. É aquela frase dita na música “Como nossos pais”: “na parede da memória, essa lembrança é a que me dói mais”.

    Saio do jardim e vou ao escritório. Começamos com uma sala, apenas. Se fechar o olho, lembro-me de todas as pessoas que lá estavam quando começamos. Sobre o que falavam, sonhos, ideias… lembro do porquê do trilho de porta que divide a sala e que, aos novos, não deve fazer o menor sentido. Mas em 2019, fazia.

    Se me dirijo à fábrica da família, lembro-me do meu pai sentado em sua sala olhando para o computador. Com seu caderno espiral de 4 matérias, ele controlava todos os recebimentos da empresa. Eu sei, há maneiras muito melhores de se fazer isso com a tecnologia disponível, mas era assim que ele fazia e, ao final, geria bem a carteira de clientes.

    Saindo do escritório e indo para a fábrica propriamente dita, lembro de 1999. Foi nesse ano que a areia e o pasto viraram barracão e fábrica. O primeiro equipamento, um absurdo da engenharia, jaz perdido em algum ferro-velho. Mas lá nesse longínquo início, ele era o máximo. Passava as noites dos finais de semana na fábrica, acompanhando o trabalho e ajudando aquela galera nos primórdios das operações com fibra de vidro. Que coceira nos braços.

    Em sua carreira, caro leitor, certamente compartilha tais sentimentos comigo. 1999. Ano em que começamos ricos e terminamos pobres. Nossa moeda sofreu a primeira desvalorização no pós real. E vivi essa angústia lá, um menino que era. Talvez você não seja “dessa época”, mas a ideia extrapola datas. Qual foi o ano mais impactante para você? Tente se lembrar onde estava e como o local que está agora faz essa conexão.

    Agora, retorne ao tempo presente. Como é possível tanto presente e passado viverem em nós? Acho que uma das causas é a explicação de meu pai: “nós passamos, as coisas permanecem no mesmo lugar”. E, ao viver um tempo razoável em um mesmo lugar, nos conectamos e misturamos, de maneira anacrônica, todos os sentimentos que já tivemos naquele local durante nossa vida.

    Que venham mais muitos anos, prédios e experiências. Que venham mais conhecimento, aventuras e sucesso.

    Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

    Com informações da Assessoria – Foto: Isaque Martins