Taxa Selic alta: impacto e o que esperar para 2025
Nesta terça-feira, o Banco Central divulgou a ata sobre a última alta da taxa Selic, anunciada na quarta-feira passada (11). No documento, o comitê reforçou que o ambiente externo permanece desafiador, especialmente devido à conjuntura econômica nos Estados Unidos. No cenário doméstico, os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho continuam apresentando dinamismo, com destaque para a divulgação do PIB do terceiro trimestre. Além disso, a inflação cheia e as medidas subjacentes têm se situado acima da meta para a inflação e apresentaram elevação nas divulgações mais recentes.
Atualmente em trajetória de alta, a Selic pode encerrar o ano em 12%, com a perspectiva de novos aumentos no próximo ano. Esse cenário reflete um ambiente econômico complexo, marcado por desafios internos e externos, como explica Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital: “O comunicado me surpreendeu positivamente. Precisava ser duro e realmente foi. As condições aqui pioraram bastante. O pacote de isenção de IR para salários de até R$ 5 mil pode dar um impulso ao consumo, somado ao impacto inflacionário de medidas protecionistas nos Estados Unidos e ao dólar mais forte no mundo.”
A elevação da Selic visa ancorar as expectativas de inflação, mas pode trazer custos significativos para a economia. “Acredito que teremos uma taxa de 14% no final de 2025, o que deve levar a uma desaceleração do PIB no próximo ano”, avalia Bolzan, que prevê cortes nos juros somente em 2026. Diante desse contexto, ele destaca que a estratégia de investimentos deve ser conservadora, priorizando aplicações pós-fixadas e atreladas ao IPCA. “Estamos recomendando 43,5% em estratégias pós-fixadas para portfólios conservadores, enquanto papéis de inflação oferecem boa proteção contra a volatilidade.”
Idean Alves, especialista em mercado de capitais, compartilha uma visão semelhante, ressaltando a necessidade de um “remédio amargo” agora para evitar medidas ainda mais drásticas no futuro. “O Copom preferiu dar um ‘choque’ de alta de juros, para evitar que esse cenário tenha que se perpetuar por mais tempo lá na frente. A alta é necessária para ancorar expectativas e melhorar o prêmio de risco do Brasil em relação a outros países”, explica. Alves também recomenda investimentos pós-fixados com liquidez e vencimentos curtos, que oferecem maior flexibilidade em um cenário de incertezas. “Vencimentos longos podem se tornar rapidamente obsoletos caso o cenário se deteriore, enquanto a liquidez permite realocações estratégicas”, complementa.
Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em finanças comportamentais, reforça que os próximos passos do Copom serão cruciais para equilibrar o cenário econômico. Para Patzlaff, os investidores conservadores encontram um terreno fértil na renda fixa, especialmente em CDBs e títulos públicos indexados à Selic. “Títulos de inflação também brilham nesse momento, mas é importante alinhar rentabilidade com segurança, considerando o risco de que algumas empresas privadas não resistam ao cenário adverso”, alerta.
Com um cenário fiscal ainda incerto e uma conjuntura global desafiadora, a decisão do Copom reflete os esforços do Banco Central em ajustar as expectativas do mercado. “O movimento atual gera gordura para a nova direção do Banco Central, sob Gabriel Galípolo, a partir de janeiro”, conclui Alves, destacando o papel estratégico da política monetária em um momento de transição econômica.
Josias Bento, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, acredita que, para quem tem um horizonte mais longo, os ativos IPCA+ podem ser uma boa solução para quem vai investir entre 5 e 10 anos. “É importante nesse momento levar o título até o vencimento, pois vai sofrer com as marcações à mercado no período”, diz. Segundo ele, o prefixado para 2027 também está bem atrativo em termos de taxa, que deve subir mais, e os IPCA+ para 2035 e 2045 são outra boa oportunidade de alocação.
Para Andressa Bergamo, sócia-fundadora da AVG Capital, o momento é histórico. “Estamos vivendo uma abertura das taxas das NTN-Bs que não víamos desde 2016. Isso, combinado à incerteza fiscal e aos spreads reduzidos no crédito privado, cria uma oportunidade única para investidores que buscam segurança com alta rentabilidade”, afirma.
Segundo a especialista, esses níveis, considerados elevados, refletem o impacto das incertezas fiscais no Brasil, que acabam gerando prêmios atrativos para ativos de risco soberano, tradicionalmente vistos como a categoria mais segura do mercado doméstico. “Esses títulos são ideais para quem deseja diversificar sua carteira sem abrir mão da segurança, principalmente em tempos de incerteza econômica. As NTN-Bs são facilmente negociáveis, possibilitando ajustes rápidos de posição caso necessário, algo mais difícil em ativos de crédito privado, que sofrem com maior risco de liquidez”, destaca a sócia da AVG Capital.
Com informações da Assessoria – Foto: divulgação