O impacto das startups de biotecnologia no mercado global, por Rafael de Souza

Rafael Souza

Os últimos anos foram excelentes para a biotecnologia. O setor – que utiliza organismos vivos e sistemas biológicos para desenvolver novas tecnologias – vem ganhando cada vez mais a atenção do mercado e do público, com suas soluções disruptivas e de impacto global. No campo, novas linhas de biológicos para o agronegócio e novas técnicas de descontaminação do solo e da água foram apenas algumas das soluções que o setor apresentou ao mundo, fazendo com que as biotechs representem, hoje, cerca de 27% do mercado global de tecnologia.

Se o número já parece alto agora, no futuro deve surpreender ainda mais. A expectativa de crescimento é de 31% em 2024, segundo a consultoria Deloitte. Estimado em US$ 1,37 trilhão em 2022, o ecossistema de biotecnologia deve progredir a uma taxa anual (CAGR) de 13,96% até 2030, de acordo com dados do Grand View Research.

A biotecnologia tem um impacto socioambiental importante no mundo e vem impulsionando a inovação em indústrias tradicionais, como a agrícola e a farmacêutica. Sua importância é tamanha que a Comissão Europeia destacou a biotecnologia como um dos elementos-chave para alavancar a competitividade e modernização da indústria na União Europeia este ano, devido ao alto potencial de crescimento e produtividade laboral do segmento. Isso porque não há, no ecossistema de biotecnologia, o medo de arriscar em algo totalmente novo ou o ‘fazer mais do mesmo’ só para lucrar. É justamente isso o que diferencia as biotechs das demais empresas do mercado.

Um ótimo exemplo são os produtos biológicos para agricultura, por meio da biotecnologia, para substituição dos atuais processos poluentes por novas tecnologias mais sustentáveis, usando células vivas e microrganismos: elas ajudam a reduzir a contaminação, os custos e a conservar recursos naturais. Estima-se que seus produtos reduzam as emissões de dióxido de carbono em 50%, o consumo de energia em 20% e o consumo de água em até 75%, segundo um relatório da Mordor Intelligence.

Mas, apesar de serem reconhecidas por seu potencial disruptivo e inovador, uma das principais dificuldades enfrentadas pelas biotechs é o entendimento do mercado. O setor integra um segmento extremamente complexo e desafiador, que exige uma compreensão aprofundada de suas nuances e particularidades. Os fracassos, isso é, as tentativas e erros, fazem parte da ciência. As descobertas oriundas do setor são capazes de modificar a vida humana, mas esse processo leva tempo. E o mercado nem sempre compreende isso.

Mesmo diante desses desafios, o Brasil possui um grande potencial para se transformar em uma referência em biotechs. Isso graças ao alto capital intelectual formado no país. Um exemplo é que o número de pesquisadores brasileiros listados entre os que mais impactaram a ciência em 2022, segundo a Universidade de Stanford, saltou de 342, em 2017, para 1.294, no ano passado – um aumento de 278%. As biotechs brasileiras unem tais profissionais altamente qualificados, boa gestão de recursos e avanço tecnológico. Esse último, importante fator para a diminuição dos custos e tempo de processos de desenvolvimento de produtos, o que minimiza a disparidade entre grandes empresas e startups de biotecnologia.

Ainda há muito a avançar, mas o impacto e os grandes avanços proporcionados por startups de biotecnologia são inegáveis. Temos as ferramentas para resolver os problemas da humanidade, mas precisamos do suporte necessário para desenvolver as soluções que vão basear a construção de um futuro mais saudável e sustentável.

*Rafael de Souza é CEO e um dos fundadores da Symbiomics. Possui doutorado em Biologia Molecular, Genética e Bioinformática pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi um dos pioneiros na aplicação de metodologias de estudo de microbioma em planta, liderando o projeto Saccharome, o microbioma da cana-de-açúcar. Também coordenou a equipe de pesquisa e desenvolvimento em microbioma de plantas no Centro de Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas (Genomics for Climate Change Research Center, GCCRC), uma iniciativa conjunta da Embrapa e da Unicamp para criação de ativos biotecnológicos para agricultura. Fez parte de projetos e consórcios internacionais no campo de microbioma, como o MicrobiomeSupport, uma rede de 26 países financiada pela União Europeia com o objetivo de alavancar a bioeconomia utilizando tecnologias exponenciais em microbioma.

Com informações da Assessoria – Foto: divulgação

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