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Ressaca de Thalita Coelho mergulha no luto e nas memórias

    […] As personagens vez ou outra são desumanizadas nos espaços que habitam, mas reatualizam a própria existência ao recriarem seus corpos que sentem, desejam e se fundem ao mar. Elas são mais do que mulheres, não há palavra que explique. E um dos grandes méritos deste romance, para além de sua construção delicada, poética, bem humorada e envolvente, é nos fazer acessar a existência de mulheres que fogem à norma e querer ser banhada pelo seu caos marítimo.

    Monique Malcher, escritora, no texto de prefácio da obra

    A escritora e professora Thalita Coelho apresenta ao público seu mais novo romance, “Ressaca“, uma narrativa potente e sensível que entrelaça as vidas de Marcela, uma professora que vê seu mundo desmoronar com a perda de uma aluna, e Leo, sua filha, cuja existência ecoa traumas há muito enterrados. A obra utiliza o realismo fantástico como estratégia para abordar temas densos como o luto, o abuso sexual infantil e as complexidades da maternidade e das relações familiares não normativas. O livro conta com texto de prefácio assinado pela escritora Monique Malcher e texto de orelha pela escritora Nalü Romano.

    Durante a pré-venda, que segue até o dia 17 de novembro, os apoiadores receberão um marca páginas e um botton personalizado. Além de uma vaga na oficina “A sapatão e a literatura: para além da representação”, ministrada pela autora.

    A narrativa fragmentada de “Ressaca” constrói sua força a partir de um evento traumático real que impactou a autora: o suicídio de uma ex-aluna. Thalita explica que a motivação para o livro nasceu “da interrupção brusca da vida”, um episódio que desenterrou seus próprios traumas e a impulsionou a explorar, na ficção, a fina linha entre a vida e a morte. A obra, no entanto, não se limita à dor. Ela também é influenciada por “a vida que se inicia a partir de um nascimento, como ocorreu com Ravel, meu filho, que veio acalmar o luto das duas mães”, completando uma visão que entende a vida e a morte como “dois lados da mesma moeda”.

    A construção do romance levou cinco anos, um período de intensa transformação pessoal para a autora, que vivenciou seu casamento, uma gravidez e a perda de sua avó. Esse processo criativo resultou em uma obra repleta de símbolos.

    A trama se desenrola em um cenário marcante: o litoral catarinense, com o mar atuando não apenas como pano de fundo, mas como uma força narrativa central, arrastando personagens e leitores para um turbilhão de emoções. A presença constante do mar não é acidental. Thalita, que sempre viveu em cidades litorâneas, afirma que “o mar é parte importante de minha escrita, especialmente em ‘Ressaca’, funcionando como uma metáfora para as memórias que insistem em voltar”.

    Além da experiência pessoal com o luto, a vivência da autora como professora e como mulher lésbica impacta severamente sua escrita. A relação sáfica entre Marcela e Pietra, assim como a dupla maternidade, são eixos centrais da trama. A autora, que é Doutora em Literatura pela UFSC e foi semifinalista do Prêmio Jabuti com seu romance anterior, “Desmemória”, consolida com “Ressaca” uma literatura politicamente comprometida, que dá voz e protagonismo a experiências historicamente silenciadas.

    Sobre a autora

    Thalita Coelho é escritora, professora e doutora em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Lésbica e mãe, sua trajetória pessoal e intelectual se entrelaçam em uma literatura marcada pelo afeto, pela resistência e pelo protagonismo de vozes dissidentes. Estreou com “Terra Molhada” (2018), uma coletânea de poemas, e publicou o romance “Desmemória” (2020), semifinalista do Prêmio Jabuti. Sua obra literária cruza a memória e a resistência, sempre com um olhar sensível e aguçado para as complexidades humanas.

    Com informações da Assessoria | Foto: Vinicius Brites