âSem omitir crueldades e enterrando vingança
em nome do maior de todos os sentimento â o Amor â
a poeta Mila Nascimento, neste âPoemas para antes do
banho, durante o cafĂ© e depois do abandono, encontrou a forma de fazer de sua poesia, arma contra os modos de violĂȘncias seculares que atravessam os corpos e as sentimentalidades das mulheres.â
Airton Souza, escritor e historiador paraense, no prefĂĄcio da obra
âPoemas para antes do banho, durante o cafĂ© e depois do abandonoâ, segundo livro da mĂ©dica e escritora paulistana Mila Nascimento (@srta_mila_
Â
A poeta expĂ”e, a partir da primeira pessoa, angĂșstias, experiĂȘncias, dores e desejos de uma subjetividade violada pelo machismo e pela misoginia. E, ao fazer isso, vai muito alĂ©m da catarse da retomada da prĂłpria voz, alcançando um tom coletivo e polĂtico que aproxima o âeuâ de um ânĂłsâ composto por mulheres que vivem, viveram ou sabem de alguĂ©m que viveu experiĂȘncias parecidas com as da autora, uma sobrevivente de violĂȘncia domĂ©stica grave. Mila acredita que as pessoas querem ler o que elas sĂŁo e sentem. Segundo ela, ânessa partilha a gente vai construindo uma roda imensa de afetosâ e sua escrita, especialmente neste livro, vai ao encontro disso.
Â
Composto por trinta e um poemas viscerais, a obra tambĂ©m aborda a importĂąncia da arte na vida de uma pessoa. AlĂ©m dos afetos, memĂłrias e sonhos, a poesia e os livros existem ali como um apoio e um meio do eu-lĂrico se conectar aos outros e tambĂ©m consigo mesmo, tornando metalinguagem o compartilhamento de experiĂȘncias tĂŁo profundas. Nesse sentido, colabora o poema âsobre o teatro da Deniseâ (pĂĄg. 40): âa arte transmuta as coisas / todas de fora / da rua / e dentro da gente / tornando todo mundo / um bocado mais contenteâ.
Â
No prefĂĄcio, Airton Souza comenta sobre o jogo quase semiĂłtico e tambĂ©m sinestĂ©sico que a poeta traz em seu livro. Ă pelo ritmo, que lembra o da fala, e pela linguagem, que explora cheiros, sabores e luzes presentes no dia a dia, que Mila consegue romper o silĂȘncio e o silenciamento que rondam a vida das mulheres desde o nascimento e, ao mesmo tempo, envolver o leitor. Como a prĂłpria sinopse da obra destaca: âĂ como se estivĂ©ssemos sentados em sua sala de estar, sentindo o cheiro do bolo no foro ou do incenso queimando Ă meia luz.â
Â
Se culturalmente existe uma expectativa de que a casa, a intimidade e o corpo guardem tudo, Mila subverte isso e, assim, consegue fazer ecoar sua voz e a voz de muitas outras. A sobrecarga da maternidade solo, o corpo desejante e a retomada da autonomia sĂŁo alguns dos temas trabalhados na obra que, como o tĂtulo sugere, desconstroi a naturalização da violĂȘncias Ă qual as mulheres estĂŁo sujeitas pelo simples fato de serem mulheres.
Â
O livro de Mila nos mostra o processo de plurissignificação da linguagem e nos apresenta a escrita como mecanismo de denĂșncia, cura e catarse. E a autora afirma: âEncontro na escrita colo, aceitação, força e afeto. NĂŁo enlouqueci graças ao ato de escreverâ. E esse aspecto foi bem realçado quando no prefĂĄcio Airton diz que ela âconsegue, quase sem forçar, emergirâ. âRespirar fundo. Recolher os Ășltimos centĂmetros de sentimentos pela vida. Tirar com a ponta das unhas as fuligens de dentro das retinas. Sentir, pluralmente, o seu e a multidĂŁo de outros corpos de mulheresâ, analisa o escritor.
Â
Mila e Camila, a médica e a escrevedora, as duas faces de uma mulher que se encontrou na escrita
Â
Camila do Nascimento Leite, nome de batismo da escritora Mila Nascimento, nasceu em março de 1979, em São Paulo, mas mora em Campinas (SP) e atua como médica endocrinologista, sexóloga e emergencista, além de dedicar parte do seu tempo para cuidar voluntariamente de pessoas em situação de vulnerabilidade social.
TambĂ©m Ă© autora do livro âPoemas Paridos de CĂłcoras â porque assim dĂłi menosâ (Minimalismos, 2023), alĂ©m de ter publicado em blogs e revistas literĂĄrias como Jirau de HistĂłrias, Revista Artes do Multiverso, Barda LiterĂĄria, Poesia na Alma, Alpendre LiterĂĄrio, A Casa Inventada, Contos de Samsara e Revista TAUP, da editora Toma aĂ um poema.Â
Â
Escreve desde a infĂąncia por estĂmulo da professora de portuguĂȘs Eunice, mas foi em 2022, que sua escrita foi reconhecida, apĂłs ter sido premiada na Categoria Poesia Nacional no 57Âș FEMUP, o Festival de MĂșsica, Conto e Poesia de ParanavaĂ (PR).Â
Â
Sua motivação para ser escritora veio do efeito das palavras no processo de reencontro com si mesma e em como o que ela cria reverbera: âO meu avesso de dor veio Ă tona em forma de poesia que tocou o coração de amigos, pacientes e tantas mulheres que dizem ser representadas pelo que eu escrevia.â E completa: âEscrevo sobre o que me dĂłi, pois quando entrego ao mundo, compartilho a dor e isso transforma tanto a mim, quanto ao outro.â
Â
Confira trecho de poema do livro:
Â
âe a gente segue sendo forte
do jeito que aprendemos
vida sangrando, quase morte
esperando e lutando por dias melhoresâ
Com informaçÔes da Assessoria â Foto: divulgação
Foz do Iguaçu vai ganhar teatro com 500 lugares Foz do Iguaçu vai ganhar um…
ExpolĂąndia 2025 em ItaipulĂąndia terĂĄ show de Guilherme & Benuto ItaipulĂąndia se prepara para viver…
Vagas de Emprego em SĂŁo Miguel do Iguaçu: confira as oportunidades A AgĂȘncia do Trabalhador…
Gincana Jovens Lindeiros: Escoteiros de Marechal CĂąndido Rondon se destacam Marechal CĂąndido Rondon segue firme…
Lar Cooperativa abre 5 vagas para Analista da Qualidade no ParanĂĄ Lar Cooperativa anunciou novas…
GuaĂra celebra 74 anos com show gratuito de Felipe & Rodrigo GuaĂra completa 74 anos…